Mico nosso de cada dia!

Monday, May 26, 2008

a garantia

Dizem que mulher não entende de carro. Devo admitir... é a mais absoluta verdade! Eu, pelo menos, não entendo.

Dia desses fui ligar meu carro e qual não foi minha suspresa... ele simplesmente não ligava... não pegava... não acendia nada... não dava sinal algum... morto... completamente sem vida...

Não acreditei... só podia ser um pesadelo... definitivamente, a semana tinha sido complicada... eu estava desempregada... sem grana... iria viajar no dia seguinte... e tudo estava dando errado... aquilo não podia estar acontecendo... eu havia trocado a bateria há menos de 4 meses...

Respirei fundo e resolvi relaxar... era noite... não poderia resolver nada mesmo... o carro estava em casa... eu estava em casa... então, estava tudo tranquilo... resolveria no dia seguinte, pela manhã, antes de pegar a estrada...

Acordei cedo... e antes mesmo de escovar os dentes, fui procurar a garantia da bateria... procurei em todas as gavetas, pastas, armários... em lugares possíveis e imagináveis... a garantia simplesmente havia sumido do mapa, sem deixar vestígio... achei recibos de outros serviços feitos no carro... achei até a nota fiscal do veículo... menos a tal garantia...

Eu sequer lembrava o nome da loja onde havia comprado a bateria... já passava das 9h quando uma luz me veio à mente... o extrato do cartão de crédito!!!! procurei e achei... o comprovante do pagamento... estava lá bem legível... Palácio das Baterias... ufa! agora, estava tudo resolvido... fui ao catálogo, encontrei o telefone da tal loja e tratei logo de ligar...

- Palácio das Baterias
- Bom dia... eu comprei uma bateria aí há uns 4 meses, mas estou tendo problemas com ela... como quem poderia falar?
- um minutinho por favor...

e a moça passou a ligação para o setor de assistência...

- assistência, pois não?
- moço, bom dia... eu comprei uma bateria aí há uns 4 meses e...
antes mesmo que eu terminasse a frase, o rapaz já atacou:
- não, senhora, deve haver algum engano, a senhora não comprou aqui...

Fiquei pasma como ele podia afirmar algo sem sequer ouvir minha história...

- desculpe, é do Palácio das Baterias?
- é, sim senhora
- existe alguma outra loja na cidade com esse mesmo nome?
- não, nós somos a única...
- então, eu comprei a bateria aí...
- não, senhora, nós somos distribuidores, não somos revendedores, a senhora não pode ter comprado aqui...
- amigo, eu estou com meu comprovante de cartão de crédito em mãos... escrito "PA-LÁ-CIO DAS BA-TE-RIAS
- não senhora, não foi aqui... nós somos distribuidores, não somos revendedores, a senhora...
- amigo, está aqui no meu cartão de crédito... se não existe outra loja com o mesmo nome, só pode ter sido aí...
- é impossível a senhora ter comprado aqui... nós somos distribuidores, não somos revendedores
- então, como o senhor me explica isso?
- nós somos distribuidores, não somos revendedores...

gente, eu tava falando com uma gravação ou era impressão minha?

- amigo, você está querendo dizer que eu estou mentindo?
- senhora, nós somos distri...
- já, sei... já sei... vocês são distribuidores, não são revendedores... eu quero falar com o gerente...
- eu sou o gerente...

e eu, já com a paciência perdida há muito tempo, esbravejei...

- pois, então, me passe pro dono...

a ligação foi transferida... uma mocinha atende... e lá vou eu explicar toda a história de novo... e lá vai ela me dizer que a loja não era distribuidora, mas, sim, revendedora...

- amiga, honestamente, não quero perder tempo com essa discussão... você vai ou não me passar a ligação para o dono?
- dona etelvina, vamos fazer o seguinte, a senhora procura novamente a garantia e a gente tenta resolver pra senhora, ok?

nem sei bem a razão, mas desliguei e fui novamente procurar a tal garantia... desta vez, procurei nos lugares impossíveis e inimagináveis... fogão, forno, microondas, geladeria, freezer, máquina de lavar, vaso sanitário... nenhum "lugar" foi esquecido...

quase 10h e ligo novamente para a loja...

- olha, realmente não achei a garantia
- dona Etelvina, então não poderemos fazer nada pela senhora...
- como não? eu tenho o comprovante de pagamento
- mas, não tem a garantia... e por lei...
- amiga, nesse país, leis têm 3 milhões de interpretação... eu não tenho a garantia, mas tenho o comprovante de pagamento... eu não acredito que você vai querer que eu entre na justiça... eu estou com problema na bateria do meu carro que foi comprada aí, há menos de 4 meses... vou comprar outra bateria e solucionar meu problema... mas, o dinheiro da anterior eu vou querer de volta... eu não acredito que você vai querer ir pra justiça e desgastar o nome da loja por causa disso...

a mocinha, finalmente, me passou para o dono da loja... nada como ameaçar entrar na justiça.... conto toda a história de novo... dessa vez, nervosa, exaltada, quase gritando...

- dona etelvina, eu já entendi o que aconteceu...
- então, me explique, vitor
- nós aqui somos distribuidores...

ai, não, ia começar tudo de novo...

- isso eu já sei
- mas, no seu extrato do cartão aparece nosso nome... aí você vai me perguntar... como isso é possível?
- não, eu não iria perguntar isso não... mas, vá lá que seja... como isso é possível?
- é que todos os meus revendedores utilizam a minha maquineta do cartão de crédito...
- ....
- a senhora não lembra em que loja comprou?
- vitor, se eu lembrasse, você acha que eu estaria ligando pra vocês? perdendo esse tempo todo? me estressando?

eu continuava indócil... e o vitor, uma simpatia...

- bom, então, a senhora agora vai me perguntar: e agora, vitor?
gente, esse cara comia merda de cigano pra ficar tentando adivinhar as coisas?
- ok, vitor... vamos lá... e agora?
- agora, eu vou ligar para um revendedor meu, que é muito amigo, parceiro e vou pedir pra ele trocar essa bateria... depois eu me acerto com ele... vamos resolver seu problema...

finalmente... finalmente a frase que eu queria ouvir... "vamos resolver seu problema"

- bom, vai lhe ligar o eduardo, do lojão do petróleo...
- ok, eu lhe agradeço muito...

quase 11h e o eduardo me liga

- dona etelvina?
- sim, sou eu
- eu sou o eduardo, do lojão do petróleo... o vitor me falou do seu problema...
- pois é...
- a senhora não poderia trazer a bateria aqui?
- eduardo, veja só... o meu carro não pega... eu até levaria a bateria de taxi, se eu soubesse como abrir o capô do carro e como tirar a bateria...
- ...
- ...
- ok, ok... vou fazer o seguinte... eu vou mandar meu motoqueiro aí... com uma bateria nova e uma nova garantia... eu só lhe peço duas coisas
- pois não
- a senhora me manda uma cópia da sua fatura, só pra eu ficar acobertado e negociar com o vitor depois uma nova bateria...
- certo... e a segunda coisa?
- não perca a garantia que eu vou lhe mandar
- ...

30 minutos depois, o motoqueiro chegou... ao tentar ligar o carro, fez uma cara estranha...

- o que foi? - perguntei
- não parece ser bateria

pronto... já fiquei nervosa... só faltava ser uma coisa mais séria... como eu iria resolver? eu estava desempregada, sem grana pra nada... o carinha fez o teste com a minha bateria... e a voltagem estava normal... boa, boa... me danei a chorar... histérica

- ai meu deus... só falta ter batido o motor do carro... eu sabia, eu sabia que eu tinha que ter trocado o óleo...
- calma dona etelvina, vamos tentar resolver
- moço, eu estou desempregada... o carro está sem seguro... e eu não tenho um tostão sequer..
- vamos fazer o seguinte... de qualquer forma, eu vou colocar a bateria nova... vamos fazer um teste...

enquanto eu soluçava, o rapaz tirou a minha bateria... preparou a nova e ao colocar no meu carro, um barulho soou... alto... estridente... agudo... rápido... familiar... "thu ru"

eu não acreditei... pedi pra morrer... era o alarme do carro... o barulho familiar era o alarme do carro... o tempo todo era o alarme do carro ... que tinha acionado sozinho (sabe-se lá porque) e impedido o carro de funcionar...

eu olhei pra cara do rapaz morta de vergonha ... aliviada, devo confessar... mas, constrangida... depois de tanta confusão... era apenas a porcaria do alarme... o rapaz, sem acreditar ainda em toda confusão, ligou para o patrão...

- seu eduardo, eu estou aqui, mas não é bateria não... era o alarme...
- ... (sabe-se lá se o eduardo gargalhava ou me xingava)
- sei, sei... certo... eu vou dizer a ela

e desligando o telefone, o rapaz virou pra mim e falou:

- olhe, seu eduardo disse que, de qualquer forma, é pra senhora ficar com a bateria nova... mas, ele mandou um recado
- diga
- pra senhora não perder a garantia...

aceitei a bateria... e acatei o recado... tive mesmo foi que perder a vergonha... e ligar para o vitor e para o eduardo, pedindo desculpas pela confusão... e agradecendo a bateria nova... e se serve de consolo aos dois: a garantia está guardada até hoje! e o carro está ótimo!

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