Mico nosso de cada dia!

Friday, February 24, 2006

É bala, minha gente!

Toda terça era a mesma coisa! Uma hora dentro do ônibus, rumo à aula de educação física, cadeira obrigatória do meu curso de... Hã?! Música! Toda terça era a mesma coisa! Nove e meia da manhã eu pegava o velho Rio Doce/CDU... O destino era a Universidade Federal de Pernambuco! Toda terça era a mesma coisa! Naquela avenida interminável, chamada Caxangá, eu contava as paradas de ônibus, só para passar o tempo... E sempre perdia a conta! Toda terça era a mesma coisa... Toda terça, exceto "aquela" terça.

O tal coletivo ia vazio, como de costume... Não tinha sido coincidência a escolha das aulas naquele horário... Eu queria conforto... Ou melhor, eu queria menos desconforto e aquele horário era ideal! No meio da manhã, todo mundo já havia se movido de um lado a outro da cidade... Ou quase todo mundo... Quem ainda estava a caminho de algum lugar, com certeza, deve ter guardado aquele dia na memória, por semanas, meses, meu Deus, uma vida inteira!

Já estávamos na terceira ou quarta parada da tal avenida Caxangá... Sentada, olhava desinteressada o movimento da rua... O fluxo de carro, gente na calçada, as lojas do outro lado da avenida, os bancos... Opa! O que era aquilo???

Pela janela do ônibus vejo uma agência bancária, onde um carro da PM está freando desesperadamente em frente, cantando pneu... Como num filme policial, descem quatro agentes do carro... Era um assalto... Só podia ser! Desesperada olhei para todos no ônibus... Ninguém estaria vendo aquilo? Ninguém estaria preocupado com o tiroteio iminente? Só eu? O ônibus continuava parado no ponto, preso num engarrafamento... carro à frente, carro atrás... e do meu lado esquerdo os policiais, que agora colocavam as mãos na cintura... Não, não havia dúvida, era uma batida policial... Era um assalto e os soldados iam invadir a agência naquele momento...

Gritei, desesperada: É um assalto! E me joguei no chão do ônibus... E lá fiquei por uns 15, 20, 30 segundos? Não sei ao certo... Foi o tempo mais longo da minha vida... Aquelas pessoas me olhando, sem entender nada... Ainda retruquei: É bala, minha gente! Nada! nenhuma reação! Era um pesadelo, só podia ser... Meu Deus, meu Deus, meu Deus, esse trânsito que não anda, clamei - acho, até, que em voz alta!

Nessa hora senti, levemente, o ônibus se movendo... Deus ouviu minha prece... As pessoas ainda olhavam pra mim, até que me toquei que eu não escutara um tiro sequer... Nem confusão na rua... Nem gritos, nem sirenes... Nada! Exceto umas risadas que começam a ecoar dentro do ônibus... Levantei do chão devagar, já meio sem graça e olhei pela janela... O Banco ficava, agora, para trás... E a viatura policial também, com seus quatro heróicos agentes... Tentando conter uma fumaça que saía do capô do carro... Essa era a pressa dos rapazes... A possibilidade do fogo!

Salva de um assalto, não pude escapar das gargalhadas... Segui no ônibus pela interminável Caxangá, perdendo, como sempre, a conta de todas as paradas da Avenida... Morta de vergonha pela bala não disparada... Na próxima vez, grito: "é fogo"!

Tuesday, February 14, 2006

Tem Gorila na Linha

Outro dia meu telefone tocou! Quem poderia imaginar que depois de tanto tempo eu iria ver, de novo, no visor do meu aparelho, aquele número tão familiar e tão aguardado durantes semanas! Como toda mulher apaixonada, voltei a ser adolescente: Meu coração disparou, as mãos ficaram geladas e me faltou o ar! Isso sem contar o nó, o embrulho no estômago... Bom, não é exatamente no estômago, mas todo mundo insiste em dizer que é lá e pronto! Pra que discutir?

Disfarcei e atendi como quem não quer nada... Como quem não tá nem aí... Como quem não percebeu que já tinham se passado quatro semanas desde a última ligação... Pra ser mais precisa, 27 dias, 18 horas, 52 minutos e 45 segundos!!!

- Alô??? Quem????? Ah!!! Oi, tudo bom? Menino você sumiu!!!

"Menino você sumiu"??? Ainda não acredito que emplaquei essa pérola! Confesso: Não fui nem um pouco criativa, mas atire a primeira pedra quem nunca usou essa célebre frase! Pior foi ouvir do outro lado: "quem sumiu foi você!" Por que os homens são tão menos criativos que as mulheres? Nem precisa tentar responder... Essa é uma daquelas perguntas que nunca terão resposta certa, verdadeira, muito menos definitiva.

O fato é que a resposta me deixou chateada... típico de adolescente... Talvez eu devesse mesmo ter assumido a "culpa" do sumiço e sair por cima da história... Mas, não!!! Eu tinha que cometer uma de minhas gafes impagáveis! Quem me conhece sabe que sou a rainha do mico! A princesa dos gorilas! Mas dessa vez, admito, me superei. Me senti a própria Chita, companheira inseparável do Tarzan!

Eu queria sair por cima da história e de repente surgiu a oportunidade tão esperada! No meio da conversa com o dito rapaz, toca o meu celular... O tema de "As Panteras" começa a invadir a minha mente e passo a achar, com uma imaginação que me é peculiar, que sou Kelly, uma das Charlie's Angels!!!

No visor do celular aparece um nome bem conhecido pra mim: Chris! Mas, naquele momento, inspirada pelo toque do celular e já vivenciando a minha personagem televisiva, aventureira e corajosa, pensei: nada melhor que um "ciumezinho"! Pedi um minutinho ao rapaz que falava comigo através dos milhões de cabos de fibra ótica e atendi a ligação via satélite... Em menos de um segundo, Chris se transformou em Geraldinho e "aí foi que o barraco desabou!"

- Oi Geraldinho!!!!
- Alô??? Tell?
-Pôxa, sair hoje? Não sei se vai dar. Marquei um programinha com minhas amigas
-Tell?? ...Não tô entendendo nada!!
-Mas, se você quiser ir com a gente!
- Tell??? Tell??? Sou eu Chris (como se eu não soubesse!!!)

Antes que aquela conversa ficasse mais louca, resolvi encerrar o telefonema... Desliguei o celular e voltei às fibras óticas...

-Oi, desculpa, o que estávamos falando mesmo?
-Pôxa, seu telefone é alto, né?
-É que eu coloco no volume mais alto, pois vive dentro da bolsa. Caso contrário eu não escutaria
-Não tô falando do toque! Tô falando da voz! Daqui eu ouvi tudo o que sua amiga tava falando!

Desliguei o telefone sem graça... Nem preciso contar que aquele foi a última vez que o tal rapaz me ligou né? Pois é, a desgraça foi feita e o mico, pago! Aliás, mico não! Um gorila enorme que foi batizado de Geraldinho! Só não me perguntem de onde eu tirei esse nome! Foi o primeiro que me veio à mente!


 
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